arquivo pessoal |
Era só uma caixinha vermelha. Ficava escondida no fundo do maleiro do armário dela, assim, esquecida. Às vezes, quando ela queria pegar um edredon extra ou quando decidia fazer uma limpeza no armário, dava de cara com aquela caixa ali, mas não a abria. Também não havia necessidade, já que sabia perfeitamente o que encontraria lá dentro.
Anos antes, quando resolveu que não queria mais viver aquela situação dúbia e sem sentido, recolheu todos os fragmentos de um amor já não correspondido (ou correspondido em migalhas que se estendiam por todo um caminho de tristezas) e depositou tudo aquilo que fora materializado em palavras em uma pequena caixa.
O tempo passou, a caixinha não mais incomodou e pouquíssimas vezes foi visitada novamente, até aquela manhã de domingo quando ela se deparou com a tal caixa mais uma vez. Com um misto de curiosidade e repulsa, teve vontade de abrí-la, de redescobrí-la. Era tudo o que restava daquilo que teria sido uma história de amor um dia. Trocas de e-mails, cartas escritas por ela (algumas raras por ele), juras de amor, declarações melosas, promessas, bilhetinhos e até mesmo aquele anelzinho de prata gravado que, abandonado há muito, havia se tornado praticamente marrom.
Nada daquilo fazia mais sentido. Nem as palavras, nem os objetos, nem mesmo os sentimentos duplos que ali estavam guardados. Amor, saudade, agonia e tristeza dentro de uma única caixa, direcionados a uma única pessoa.
De tudo, restaram apenas papéis picados em uma cesta de lixo.