Sunday, August 05, 2012

Passageiro

Naquela manhã algo estava diferente. Algo havia mudado. As grandes janelas davam espaço para os primeiros raios de sol invadirem de mansinho a sala para as visitas. Era uma fria manhã de inverno como outra qualquer. A ampla sala branca tomava emprestada a cor dos raios de sol. As cortinas se entreolhavam envergonhadas com aquela "invasão" e, ao mesmo tempo, abriam caminho para a luz entrar.

Por: Emília Duarte
Ela queria apenas ficar ali, sem se mexer. Não se preocupou com o horário. Não se preocupou em saber os outros detalhes escondidos naquele par de olhos verdes que já há tanto conhecia. Não precisava saber de mais nada. Sem pressa, sem pensar, apenas se deixando curtir naqueles grandes braços que a enlaçavam, ela permaneceu ali, em silêncio. Os raios de sol ficavam ainda mais fortes, mas ela não queria ir embora. Não queria que ele fosse embora. Enquanto esperava ele acordar, fitava aquela imagem bonita do céu iluminado de um domingo preguiçoso com uma certa leveza.

Sentia-se feliz, como há muito não se sentia. Assim como os raios de sol invadiam aquela sala onde apenas dois corpos se manifestavam de uma maneira carinhosa, se deixou invadir outra vez. Os sentimentos eram bons, eram puros. Não tinha mais o porquê esperar. Não tinha mais o porquê se fechar.

Porque, no fim, tudo passa. Às vezes leva um tempo maior, mas passa. A vida, as pessoas, os momentos, tudo passageiro. Algumas coisas se tornam mais marcantes, outras menos. A própria memória acaba se encarregando em varrer o que já não serve mais e abrir espaço para o novo. Os sentimentos vão se desfazendo no seu tempo e sob suas próprias condições.

E, assim, naquela manhã como outra qualquer, ela se deu conta: estava livre outra vez.

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