Sunday, December 02, 2018

Despedidas temporárias

Um abraço forte e apertado. Brincadeirinhas ao pé do ouvido, risadas bobas. Outro beijo no rosto. Desenrolaram-se, se olharam nos olhos. Um beijo tímido, outro abraço apertado. Uma pergunta foi o suficiente para se soltarem. As palavras jorraram dos mesmos lábios que tinham acabado de beijá-la. 

De repente, o distanciamento. Diferentes desejos. Pensamentos confusos.

Os mesmos lábios que diziam não ter mais vontade, encostavam nos lábios dela segundos depois.

- Tchau.
- Tchau, me avisa quando chegar em casa?

Ela não olhou para trás.

Friday, February 02, 2018

Sobre sintomas de saudade

Tenta fingir que hoje é um dia como outro qualquer, mas, por mais que insista, não consegue se enganar tão fácil assim. É inevitável não pensar nele e em todos os "começos" e possíveis significados que esta data lhe traz. Não consegue esquecer.

Não consegue esquecer também o seu olhar, o seu jeitinho tímido, aquele seu sorriso de canto de boca. Não consegue esquecer do dia que ele foi até o hospital só pra fazer companhia e segurar a sua mão (e a sua bolsa... rs). Não consegue deixar para trás a sensação boa do seu toque, do seu cheiro e da sua barba.

A verdade é que ela ainda não se acostumou com a ausência dele em sua vida. Sente falta das conversas, das brincadeiras, das intimidades, da parceria. Em alguns dias chega a sentir o cheiro dele por entre os lençóis da sua cama. Em outros, apenas o procura com os olhos no lugar onde eles sempre costumavam se encontrar no início do dia, só para ter a certeza de que ele não está. E dói não vê-lo mais...

Ainda é dolorido pra ela o fato de eles não se falarem mais; de ela não mais poder contar com ele e/ou contar para ele sobre todas as coisas que têm acontecido ultimamente. Detesta a distância física que hoje os separa, os fusos horários diferentes e, principalmente, os desentendimentos idiotas. Às vezes, lê trechos das suas conversas de meses atrás só para matar um pouquinho da saudade e dar risadas com as hashtags e fotinhos engraçadas que eles trocavam.

Enfim, apesar de todos os desentendimentos, desencontros e dores, ela continua apoiando a decisão dele de ir em busca dos seus sonhos, do seu caminho. Ele está passando pelos seus processos. E ela sabe que esta será uma experiência única e inesquecível para a vida dele.

E, assim, vai deixando o tempo passar, vivendo um dia de cada vez, esperando que tudo isso passe. Ainda assim, sente saudade dele todos os dias. E sente amor, apenas amor.

Wednesday, January 10, 2018

(Re)começo

(*) arquivo pessoal, 2017
Cansou. Cansou de sempre ser a mesma pessoa. De sorrir quando não está com vontade. De ser exatamente aquilo que todo mundo espera dela. Cansou de ser obediente, certinha, de ter horário pra tudo, de fazer tudo da forma como sempre fez. Cansou da agenda cheia de compromissos, de ter que responder mensagens o tempo todo, de ter que falar com os outros quando, na verdade, quer ficar no seu canto, em silêncio. Cansou de fingir que está tudo bem, de ver coisas com as quais não concorda, de levar um estilo de vida que não condiz mais com as suas crenças.

Um novo ano se inicia, mas, para ela, tudo continua no mesmo lugar. Tenta se levantar, mas a cabeça pesa; o corpo não responde. O coração palpita. Tenta se reorganizar, organizando contas, relendo cartas antigas, jogando fora papéis e objetos. Dorme, assiste filmes, se espreguiça, lê, tenta ordenar os pensamentos, chora, acende velas. Molha as plantas. Se isola do mundo, se isola de tudo. A vida anda morna demais, chata demais, sem graça demais e ninguém vai entender. 

A verdade é que ela não quer lidar com nada e nem com ninguém. Não quer falar e também não quer ouvir. Quer pensar, sozinha, sobre o que fazer, qual passo dar e como será daqui pra frente. Quer ser mais leve, menos exigente, mas só consegue se apegar cada vez mais nas miudezas do dia-a-dia. Fica triste, desolada... frustrada. Não entende os porquês. Respira.

Sente-se perdida. Quer encontrar respostas, possíveis caminhos. Quer leveza e sabedoria. Quer encontrar o que a fará feliz sem que haja prazo de validade. Não se importa em ir ou em ficar, desde que seja a melhor saída para a sua vida. Está em uma busca infinita - mais interna que externa -, procurando encontrar o que realmente alimenta a sua alma, o que faz sentido, o que lhe traz o mínimo de equilíbrio.

Precisa de espaço. Precisa de silêncio. Quer enfrentar seu caos, frente a frente, sozinha. Arranja forças para continuar na estrada, mas no seu tempo, do seu jeito. Quer tentar ouvir e absorver todo o seu barulho interno. Quer (re)começar, de alguma forma, a caminhar com as suas próprias pernas.

Sentada na sua poltrona chora mais um dia.