Tuesday, January 31, 2012

Perca-se de vez!

"Dezembro na pateira" de Álvaro Roxo
Queria que tudo isso passasse e que a leveza voltasse. Anda se sentindo pesada e, ao mesmo tempo, de mãos atadas. Seus gritos ficam sufocados pelas minhas amordaças. E precisa se calar por fora e se ouvir por dentro. É mais que um desejo, é necessidade.

Sente-se presa naquele mundo que ela mesmo criou. É como se tivesse parado no tempo e não descobrisse a causa que a acorrenta em atitudes repetitivas. Quando se dá conta de que o comportamento apenas se repete, já é tarde demais. Recai sobre os mesmos erros, os mesmos julgamentos, as mesmas infantilidades. As mesmas burrices. E por que precisa ser tudo o "mesmo"? E por que tudo de novo?

Precisa voltar a aprender a aquietar a mente. Esquecer e se deixar esquecida. De (deixar de) fazer certas coisas. Desespero e ansiedade machucam e são tolices da humanidade. São, sobretudo, suas tolices incontroláveis.

Monday, January 30, 2012

A cidade e as cegas

Ela olha pela janela. Já anoiteceu, as luzes se acenderam lá fora. Ali dentro continua escuro, sombrio. Não sabe muito bem o que procurar, pois não tem certeza se de fato quer encontrar alguma coisa.

Pousa o queixo sobre os braços cruzados e não se cansa de pensar. Pensa sobre os clichês da vida e os tapas na cara que anda levando. Toma outro gole. E mais outro. Tira seus óculos para ver se assim consegue enxergar melhor. Quer vasculhar aquela paisagem pra saber se ainda há algo ali. Se ainda resta alguém.

Hesita diante de tudo isso. Será que saberia lidar com as mudanças que a vida vem tentando lhe oferecer? Vasculha lá dentro de novo. E tenta enxergar aquilo que é inalcançável aos seus olhos. Alguns fios de cabelo escapam e recaem sobre a sua testa. Não se importa. Não sabe mais o que exatamente a vida quer lhe mostrar com tudo isso. Perde as forças e a vontade diante de tantas novidades. E se confunde por não entender os porquês.

Os sons dos carros lá embaixo diminuem ao passo que tantos outros sons aumentam dentro da sua cabeça. Não entende porque sempre se acha tão errada em tantas situações. Não entende o porque querer determinada coisa é tão difícil e tão inalcançável. Será que está sempre errada, como sempre se julga estar?

Outro gole passa pela garganta que já não quer mais se abrir. Querendo calar seus pensamentos, fecha seus ouvidos. Em vão. Fecha a garrafa, isso tudo não faz mais sentido. A cidade já não é mais a mesma. E ela também não.

Sunday, January 22, 2012

Recortes

Querendo esquecer da realidade, tomava um outro gole da pinga. Seu casaco mostarda, seu boné escuro e os cabelos meio grisalhos se misturavam naquela figura.

Estava andando vagarosamente sobre o viaduto. Falava sozinho. Falava qualquer coisa e gesticulava com apenas uma das mãos (a outra, era ocupada pela pinga). Parecia que queria fazer com que o mundo o ouvisse. Mas, ninguém escutava. Os carros fechavam suas janelas como se quisessem dar as costas àquele indivíduo.
Ele olhou para a minha direção e logo desviou o olhar. Alguém o observava. Eu ali, tentava decifrar as palavras jogadas ao vento. A plateia era exígua.

Se virou, e tudo o que pude ouvir foi um toma pra vocês. Atirou um pequeno pedaço de barbante desgastado na via que passava por baixo do viaduto. Barbante tão pequeno que nem servia para uma possível tragédia.

A garoa fina começou a cair e, aquele casaco mostarda, foi se deixando descer pelo viaduto.

Tuesday, January 10, 2012

Ali dentro


Ela se fecha em um mundo interno e infinito e, dentro desse mundo, se explora. Adentra portas nunca abertas, lugares obscuros de sentimentos oblíquos. Nada é certo. Também nada é errado. Apenas procura encontrar respostas dentro de si mesma para aquilo que não possui sequer uma pista. Os questionamentos aumentam, as forças se confundem e ora se encontra em pura fraqueza, ora com toda força que a vida pode lhe dar. E não dá pra entender. São altos e baixos e muitas curvas entre uma descoberta e outra. É como uma montanha russa, cujo fim nunca se aproxima. Quanto mais se aprofunda, se depara com quebras, falhas, rachaduras. E dá um aperto, uma aflição, até mesmo uma agonia.

As pessoas já não querem mais fazer parte disso. Afastam-se dela, às vezes, até sem querer. E naquele cantinho frio, sozinha com ela mesma, suas lágrimas escorrem. Por alguns momentos ela se esqueceu de ser mulher e apenas se deixou ser criança.

Sunday, January 08, 2012

Ah... as mudanças.

O ano muda, as pessoas nem tanto. E não é por não quererem, mas sim porque o processo de uma mudança profunda leva tempo. Leva tempo para entender que algumas coisas estão um pouco mais arraigadas que outras. São conceitos, maneiras de viver e de encarar as coisas e até mesmo de colocar as coisas na balança que fazem a diferença quando a real vontade é de, no fundo, mudar uma porção de visões.

Você passa a não se importar com algumas coisas, mas ainda sim, dá atenção em demasia a tantas outras que não devem ter sequer atenção.
Algumas pessoas sentem necessidade em falar determinadas coisas que, no fundo, não precisam ser faladas. Elas simplesmente ficam subentendidas nas entrelinhas. Então, pra que abrir a boca? Qual é essa necessidade? E por que essa agonia? Eu também não entendo. Penso, penso e quanto mais eu penso, mais o nó se faz na minha cabeça. E a gente tenta ficar quieta quando a vontade é de falar, falar e falar, por mais que não se saiba bem ao certo o quê. Isso definitivamente não está certo. Mas talvez também seja parte do processo de alterar, desfazer, refazer e ver no que dá.

Outras tantas pessoas não sentem qualquer necessidade de falar feito uma matraca doida. Elas se contentam com o silêncio próprio e o alheio e seguem sua vida sem olhar para trás. Mas até onde isso também é saudável? Até onde isso faz parte de crescer e perceber o que se quer ou não? Se não está contente, simplesmente aceita em silêncio? 

Acho que estou no meio desse processo louco de me conhecer e saber até onde vai meu limite. Ou, talvez, no começo, em uma visão mais conservadora. Ao que parece, será um longo caminho tortuoso, mas que estou disposta a seguir... afinal, não dá pra ser a mesma e cometer os mesmos erros sempre. É hora de mudar.