Desenho da Fabi |
O coração fica apertado, com vontade de chorar. É sempre difícil se despedir de alguém que a gente gosta muito. Quem me conhece bem sabe que sou péssima com toda e qualquer despedida. Nunca sei o que dizer ou como agir direito. O meu autocontrole racional (que já não é lá aquelas coisas) some por completo e restam somente os sentimentos em frangalhos.
Ela é uma das poucas pessoas na minha vida de quem eu sinto falta todos os dias. É aquela pessoa que me conhece mais que eu mesma. Detesta pessoas dependentes, mas a mim, ela tolera. E me escuta, me dá os ombros para chorar, passa a mão na minha cabeça quando eu preciso. Às vezes chega a se desesperar com o meu desespero e a minha tristeza, mas é sempre dela que vêm os melhores conselhos. Outras vezes tem dificuldade em se expressar por meio das palavras, e acaba apenas me escutando e me dando um abraço forte no fim. Na verdade, o simples fato de estar por perto já conforta meu coração ansioso.
É uma das pessoas que me dá forças para eu continuar acreditando no meu caminho escolhido e que me entende quando eu digo que somos muito diferentes e, ao mesmo tempo, extremamente iguais. Entende o meu jeito de pensar e não me condena por isso, pelo contrário, tenta me mostrar que existem outras maneiras. Na maioria das vezes eu é que acabo me sentindo boba perto da sabedoria que ela tem para determinadas coisas.
Tenho medo e, muitas vezes, até vergonha de contar algumas coisas para ela, é verdade. Dá medo do que ela vai pensar de mim, como vai julgar a situação, como vai me ver dali em diante, afinal eu carrego a missão de ser a mais velha, "o exemplo a ser seguido". Suas opiniões têm um peso grande na minha vida e muitas vezes fico com receio desse olhar que geralmente é duro, mas necessário.
É claro que nem tudo são "rosas". Temos nossos momentos de "briguinhas" bobas, discussões infantis e até mesmo já ficamos sem nos falar por alguns dias, afinal, ela está crescendo e é muito difícil para mim vê-la assim: tão independente e cheia de opiniões próprias. Mas, no fim, percebemos que tudo isso faz parte do processo de crescimento e acabamos encontrando o caminho mais razoável para seguirmos as nossas vidas lado a lado.
Quando a história se inverte e é ela quem precisa de mim, eu tento ser tão forte quanto eu acho que ela é e tento mostrar o lado mais leve das coisas. E é naquela tarde de um sábado qualquer que, depois de ouvir todas as minhas novidades/ansiedades/alegrias/lamentações, ela se mostra frágil diante da mais simples de todas as perguntas: "e você, como está?". É nesse momento que eu percebo que, apesar de já ser "mulher feita", ainda existe lá dentro aquela menininha morena de cabelos cacheadinhos, dócil e meiga, à espera de um abraço gostoso e de uma palavra amiga.
É ela que faz palhaçadas e arranca risadas da família inteira. É ela que faz sopinhas de macarrão à noite para a irmã faminta. Que me escuta mesmo quando não está com a menor paciência. Que me mostra quando estou errada, quando estou surtando ou quando eu simplesmente preciso mudar para viver melhor. Que mexe na ferida quando ela ainda está aberta, mas que me abraça quando não aguenta me ver chorar. E que me chacoalha para a vida e que quer sempre o meu bem. Que me incentiva a entrar em novas aventuras, bem como sair das "furadas" da vida... enfim, somos distantes na idade, mas próximas de coração. Ela é a minha maior confidente e melhor amiga e eu sei que não há distância no mundo que nos separará. O que importa realmente é que sabemos que sempre poderemos contar uma com a outra onde quer que a gente vá.
"saudade
fantasma da minha vida
consequência da despedida
que entre nós há de vir."