Saturday, March 08, 2014

Estórias de Alice

Alice tinha vontade de se apaixonar novamente. Nem se lembrava quando havia sido a última vez. Sentia falta de sentir o coração parar por alguns segundos (e das palpitações sem fim que viriam em seguida), do frio na barriga, de ver o mundo com lentes coloridas na maior parte do tempo (se não o tempo todo).

Era romântica pra caramba. Tentava esconder esse fato até dela mesma, mas, no fim, cansou de remar contra a maré e achou que devesse se assumir do jeito que era para o mundo. Sou romântica mesmo, e daí?, falou para a amiga que a escutava pacientemente na mesa do bar. Queria romance, queria amor, queria planos juntos, musiquinhas bregas e tudo o que tinha direito.

(*) Foto por Álvaro Roxo (1000imagens)
Queria, queria, queria, mas estava um pouco cansada de procurar. Busca eterna e infinita, meudeusdocéu. Achava que nunca encontraria um cara legal para, ao menos, sair de vez em quando e fazer programinhas juntos. Esse mundo anda muito difícil: uma hora você é oferecida, outra hora você é desinteressada... como faz?. Não faz, Alice, deixa que façam. Quem quer, faz.

Quem quer faz? Faz. E ele fez. Ele a chamou pra sair. Eeeeee! Ela não se aguentava de tanta felicidade. Tanta que passou horas entre o chuveiro, o armário e o espelho só pra escolher uma roupinha para o "grande encontro". Eles tinham se conhecido em um casamento (Alice, como boa romântica que era, adorava casamentos). Ela já estava acostumada a ficar sozinha nos casamentos dos amigos que nem percebia muitas coisas ao seu redor. Até que percebeu e não se arrependeu.

Naquele sábado, porém, caprichou no visual - nada muito carregado, nada muito sóbrio -, colocou seu melhor perfume e saiu. Não sabia o que ia encontrar além dele, mas, no fim, nem se importava, afinal ia vê-lo novamente e só isso, na sua humilde opinião, já era uma vitória.

Vitória? Sim, explico: Alice vinha de uma maré de decepções atrás de decepções - um que era amigo, mas que não falou mais com ela depois de um micro-rolo-intenso-de-verão. Outro que saiu com ela algumas vezes e, "do nada"(pra ela), começou a namorar. Com outra, claro. Outro que só procura de tempos em tempos para dar uma garantida de que ela ainda está lá, solteira, supostamente infeliz e para dar uma "mijadinha no poste", afinal, cachorro que é cachorro mija em todos os postes da rua para assegurar o seu posto. O outro que tinha 15 anos de mentalidade e ela não sabia mais o que fazer pra despistar. Pois é, pois é... "poor Alice".

Diante disso tudo, não se furtou de pensar: agora é a minha vez de ser feliz. O cara é ótimo!!. Morreu de vergonha por alguns minutos, mas, depois, tudo entrou nos eixos. Já havia se enturmado com o pessoal da mesa, estava quase "se sentindo em casa". Ele, um fofo, fazia de tudo pra ela ficar à vontade. Ela, uma fofa, fazia de tudo pra se libertar da vergonha infinita. E foi ótimo!

Mas aí os dias passaram. Trocaram algumas mensagens fofas (um adendo necessário aqui: Alice quase morreu com uma mensagem recebida dizendo que "estava com saudades". Vamos combinar que um "saudade" é QUASE uma declaração de amor em determinadas situações nos tempos de hoje. Não é, eu sei, você sabe, Alice sabe, mas é um QUASE e um "quase" já é uma grande coisas no mundo de Alice). Ela se encantou, se empolgou de novo e as palavras saíram correndo dos seus rápidos dedinhos.

Depois de um tantinho de tempo, os fofos resolveram se encontrar novamente. Eeeeee! Ele sugeriu de se verem e Alice já ficou toda animada. Não fez mais nada no dia marcado a não ser esperar e, claro, pensar na roupa, no cabelo, no sapato, na vida. Esperou mensagem, ligação, sinal de vida, fumaça, bolhinha de sabão. Decidiu que não seria mal nenhum mandar uma mensagem e... nada. Telefonou (será que ele foi atropelado? parada cardíaca? sequestro relâmpago? levaram o celular embora CERTEZA!... a mente de uma mulher pensa sempre nas mais loucas possibilidade e finge acreditar em cada uma delas para alívio imediato da não correspondência).

Alice não aprende mesmo. Já decepcionada (outra vez?) recebeu uma mensagenzinha no dia seguinte (não, ele não tinha sido atropelado, sofrido parada cardíaca, etc, etc) e resolveu que ele não era tudo aquilo. Ficou triste por uma semana e não mais pronunciou o seu nome para as amigas, as amigas das amigas e para qualquer outro ser com quem ela quisesse dividir a felicidade de ter encontrado um cara bacana. Desacreditou mais uma vez na possibilidade de encontrar alguém pra lhe fazer companhia. Comprou uma passagem, tirou férias e foi embora pra Europa ser feliz.

PS: tempos depois Alice ficou sabendo que ele tocou a sua vida, como devia ser: mudou de emprego, parou de fumar, comprou um cachorro e se mudou para uma casa confortável com a sua atual esposa.

2 comments:

Estrela said...

Olá, Fernanda!
Muito bom o seu texto. Retrata muito bem o que a maioria das mulheres românticas sofrem. Quando acham que encontraram a pessoa especial, ele se revela só mais um... (complete,kkk).

Lívia Possi said...

Entra ano e sai ano, e eu continuo amando essa sua Felicidade Clandestina, Fê!
Ler seus textos dá uma leveza... um gostinho de coisa boa num dia turbulento... Amo!
Beijo grandãozão!