“Lascia che io sia il tuo brivido più grande
E non andare via
Accorciamo le distanze”
(Nek – Lascia che io sia)
“Apesar de tudo existe uma fonte de água pura
Quem beber daquela água não terá mais amargura...”
(Dança da solidão – Marisa Monte)
Às vezes dá um grande desânimo de tudo... desânimo de viver, de procurar, de estudar... vivendo num país onde quatro MESES de trabalho servem apenas para sustentar a “mamata” do governo é um absurdo. Ainda se tivéssemos condições reais de uso do transporte público, eficácia nos serviços da saúde, educação decente, tudo bem... mas, ao invés disso, temos corrupção, corrupção e.... mais corrupção. Num país onde empregadas domésticas sem estudo algum ganham mais que alguns mestrandos. Não, não estou desmerecendo as empregadas domésticas, entenda-me bem, mas o que quero dizer é que há pessoas que estudam como loucos para poder ter condições melhores e, quando se encontram dentro da real situação, se deparam com a triste realidade: nem trabalhando dia e noite-noite e dia, consegue-se um nível de vida auto-sustentável e, desta forma, o número de inadimplentes, empréstimos, agiotas só tende a crescer.
É difícil ir a um hospital e passar mais de 12 horas esperando pelo atendimento que não chega. Não por falta de profissionais, mas por falta de macas. O uso do transporte público é outra calamidade. Ir trabalhar usando o transporte público em São Paulo - uma cidade onde tem milhares de habitantes que precisam ir de um lado pra outro com rapidez – é outra calamidade, afinal não há transportes eficazes e em número suficiente para atender a população local. Aí, entram os carros. Trânsito infernal, stress, buzinas, caos... gasolina e álcool subindo, qualidade descendo, rodízio municipal, multas para encher os cofres de algum pilantra por aí e assim vai. E o ensino, então? Este é digno de dó. As escolas de ensino fundamental são de envergonhar a qualquer um. Uma ou outra são consideradas “boas”, mas apenas por força de vontade de alguns diretorese professores. Outras 90% ficam para trás na qualidade, a partir daí, surgem programas de “incentivo” como quotas na entrada da faculdade. Péssimo. Preferia que melhorassem o ensino e o salário dos professores para que os mesmos se sentissem mais motivados e, consequentemente, motivariam seus alunos a estudar de verdade, para que cada um pudesse ter a real capacidade de conquistar seu lugar na universidade pública, tendo o direito de estudar com dignidade.
A universidade é outro ponto a ser questionado. Querem tirar a autoridade da universidade pública... claro que querem fiscalizar o que se gasta, pois se for considerado “desnecessário”, óbvio que haverá um corte de verbas. E pra quê? Pra investir em algo mais útil? A resposta é siiiiim: na conta bancária do primeiro espertalhão que pegar o dinheiro e mandar para a Suíça. É muito mais interessante ter dinheiro em conta que uma população inteligente que não só elege de forma consciente, mas que cobra também de seus governantes.
Eu sei lá... ando meio de saco cheio de ouvir as notícias. É operação Navalha, é CPI do não-sei-o-que-lá, é corrupção daqui e de acolá. Será que tudo isso vai mudar?! Ouve-se de todos os lados que deve se votar com mais consciência: concordo e assino embaixo. Mas votar em quem? - esta é a questão. Ando meio desiludida com um país que elege pessoas como Clodovil e Frank Aguiar, por exemplo. Que ridículo uma pessoa ter preocupações tão pequenas ao dizer que as mulheres “trabalham deitadas e descansam em pé” em plena Câmara dos deputados quando há tantos outros assuntos a serem discutidos. Rios de dinheiro para sustentar pessoas que não fazem absolutamente nada. E a gente aqui, trabalhando sempre.... muitas vezes doente, muitas vezes cansado, mas sempre sustentando as riquezas dos outros.
É mesmo uma vergonha nacional, uma desilusão pessoal. “Desilusão, desilusão... danço eu, dança você na dança da solidão...”
“leste oeste norte sul
onde um homem se situa
quando o sol sobre o azul
ou quando no mar a lua
não buscaria conforto
nem juntaria dinheiro
um amor em cada porto
ah se eu fosse marinheiro...”
(Maresia-Adriana Calcanhoto)
Às vezes eu digo coisas da boca pra fora, mas nem percebo que elas expressam o que realmente sinto. Sinto, por exemplo, que, provavelmente, meu dia precisaria ter mais de 48 horas para que eu pudesse desfrutá-lo da melhor maneira possível. Gostaria também de ter mais de uma vida – isto é, se já não tive, terei, ou tenho – para poder ler tudo aquilo que eu desejo. Estranho este pensamento para alguns, eu sei, minha mãe é um exemplo clássico do "estranhamento", afinal, ela odeia ler... mas, cada vez que eu entro numa livraria – cabe ressaltar aqui que tenho evitado ao máximo entrar em uma – minha vontade de poder sentar ali e esquecer da vida é enorme. Quero viajar lá dentro das idéias de outras pessoas, saber o que o mundo pensa, ler mais sobre a Índia, a China e até mesmo sobre a Mongólia... poder ir e voltar a hora que eu quiser da Itália apenas com o pensamento. Viajar nos contos da Clarice, nos romances do Assis, nos poemas de Carlos. Conhecer o desconhecido. Tocar no desejado. Entrar nos livros e não sair tão cedo, com pressa para voltar à realidade. Ah, outra coisa que eu queria também e, talvez, tenho tentado treinar um pouco pra isso, é virar uma pequena eremita. Queria me isolar um pouco e ter tempo para olhar pra mim mesma. Olhar lá dentro e ver se todos aqueles valores ainda valem a pena ou devem ser completamente reformulados. Ou, até mesmo, dar uma roupagem nova para cada um deles. Algumas modificações, talvez, não fossem demais. Queria também não ter sono excessivo, ter tempo suficiente para passar com meus amigos, um grande amor esperando a hora certa chegar... um abraço apertado, um colinho quando precisasse, ser acordada com beijinhos, ser surpreendida com bombons... enfim, essas coisinhas que fazem nosso dia-a-dia mais doce... queria muito mais do que ando tendo... uma liberdade maior, uma independência verdadeira...
Tudo ao seu tempo... tudo ao seu tempo...