Seria um apartamento pequeno. Um teto, algumas paredes. Um lugar para dormir e acordar, umas almofadas coloridas e grandes para sentar e diversas prateleiras espalhadas. Uma escrivaninha, uma cadeira. Paredes brancas. Um banheiro. Sem telefone, sem internet. Algumas janelas - nem muito grandes, nem muito pequenas - com vidros transparentes. Algumas cortinas, caso não queira ver a luz do dia ou que queira acordar às quatro da tarde. Um lugar que ninguém saiba o endereço e nem tenha as chaves para entrar, além de eu mesma. Passaria três, quatro dias sem sair, sem ver ninguém, sem saber notícias do mundo externo. Veria apenas o que está dentro de mim. Organizaria as minhas coisas do jeito que eu quero e na hora que eu quero. Arrumaria minha cama quando eu bem entendesse. Escreveria sobre os meus pensamentos sem suspeitar que alguém estivesse lendo-os na tela por trás de mim. Ninguém entrando ou saindo sem ser convidado.
Não teria mais ninguém para assistir a minha vida. Nenhuma testemunha, apenas eu mesma. Ninguém pra me dizer que estou errada ou certa, que tenho que sair mais, que não posso só estudar, que tenho que me divertir, que trabalhar não é tudo, que não posso ficar pra sempre deitada, que a vida é pra ser vivida, que eu tenho que mudar, que o amor da minha vida um dia vai chegar, que eu tenho que conhecer mais gente (mais???), que eu tenho que pensar sempre positivo, que preciso ver as cores da vida e das pessoas... enfim, ninguém pra me encher o saco. Ninguém para mentir sobre pequenas, médias ou grandes coisas (essa seria a melhor pedida).
As fotos já não são mais as mesmas. A minha imagem nelas estão cada vez mais horríveis. Não gosto do que vejo e não sei como mudar. Ando perturbada com alguma coisa que não sei bem da onde vem e nem como explicar. É esquisito, só isso.E aí, eu fecho a porta e me tranco lá dentro, sem ninguém pra testemunhar.
By the way... odiei o esmalte.
A little privacy wouldn’t hurt anyway.