Sunday, April 25, 2010

About goodbyes


Ela se foi com data marcada para voltar. Foi com um sorriso lindo no rosto e eu jamais queria arruinar a sua felicidade. Tentei esconder as minhas lágrimas, mas não consegui. Não adianta, não sei me despedir, ainda mais se tratando de uma das minhas pessoas favoritas no mundo.

Sei que são "apenas" três semanas e que é um dos seus muitos sonhos que está se realizando, mas meu coração talvez não entenda isso como a minha razão o faz.

Lá se foi a minha irmã, minha melhor amiga, minha companheirinha de finais de semana e apenas uma coisa eu consegui constatar: sou tão chorona quanto o meu avô era.

Wednesday, April 07, 2010

A casa

Tudo está arrumado dentro da sua casa. Seus móveis estão impecáveis, a iluminação está perfeita, os quartos e as gavetas estão limpos e cheirosos. A casa está em excelente estado, pronta para ser desfrutada.

Depois que ela arrumou tudo, ele aparece. De início, não sabe muito bem como agir e olha apenas pela frestinha da janela o mais novo desconhecido que passa na rua. Ele parou na sua porta. Meio desconfiada, acaba abrindo a porta e deixando-o entrar. A princípio, ele mexe em algumas coisas, senta-se no sofá, procura algo no interior da cozinha e chega até a conseguir abrir algumas das suas gavetas trancadas a chaves. Ela continua na defensiva, mas não o impede de fazer coisa alguma.

O tempo passa e as gavetas deixam de ter chaves. A geladeira já é aberta e fechada quando ele quer, sem restrições. As roupas dele já se espalham pelo sofá, a toalha na cama. A casa vai ficando um pouco mais bagunçada, as coisas já não estão no seu lugar. E ela? Ela deixa que tudo fique assim, sem pôr e nem tirar. Limpa tudo direitinho, mas não tira nada dele do lugar... Deixa escapar as suas próprias vontades pelas frestinhas das janelas em nome da sua felicidade momentânea, mesmo que, para isso, tenha que deixar tudo espalhado do jeito que está. Com isso, deixa escapar também que não é de ferro, que não tem sangue de barata e que tem sentimentos. Tem sentimentos pela casa que ela construiu pedacinho por pedacinho durante todos esses anos, tem carinho pela mobília, pelas roupas, pelos pisos, pelo telhado... Sabe que não é das melhores casa do bairro, mas sabe também o quanto demorou para construí-la.

Sua permissividade ultrapassa as suas vontades e, assim, ela vive a esperar. Espera que ele lhe dê mais atenção. Espera que ele lhe dê mais carinho. Espera que ele lhe dê um pouco mais de prioridade. E vive a esperar.

Enquanto isso, os meses se passam e ele vai deixando algumas coisas para trás... alguns objetos pessoais, algumas roupas pelo chão, alguns armários semi-abertos. Pouco a pouco, ele vai saindo pela porta dos fundos. E ela? Ela fica lá, no meio da bagunça pensando o porquê de tudo ter ficado de pernas para o ar.

Assim, fecha suas portas e suas janelas. Ela precisa colocar a casa em ordem... tudo de novo!

Sunday, April 04, 2010

De outras páscoas


Inevitável não lembrar da casa da nonna nestes dias festivos e familiares. Lembrei do cheiro gostoso que vinha da casa da villa na Mooca e de quando éramos menores.

Na Páscoa, sempre, indiscutivelmente, passávamos o dia na nonna. Normalmente chegávamos quando alguém da família já estava lá. A nonna já estava com todas as panelas no fogo e as carnes no forno, sem esquecer do seu memorável aventalzinho. Daí chegavam os tios e primos e, com eles, a caipirinha, o vinho e os melhores doces das titias. Ovos de chocolate embrulhados em brilhantes papéis se espalhavam pela casa.

Enquanto o almoço não saía, nós, crianças, ficávamos por perto esperando o pãozinho italiano com molho em cima. A nonna reclamava, mas sempre acabava fazendo mais um e a gente já saía correndo pra sala.

Os adultos sentavam-se na mesa grande, enquanto as crianças se espalhavam pela sala, no sofá, no chão, na cozinha, aonde coubesse. Era uma festa só. Todo mundo falava ao mesmo tempo e contava piadas e ria e matava a saudade. A nonna não sentava à mesa, pois tinha que estar atenta para que os pratos sempre estivessem cheios, mesmo quando não conseguíamos mais comer. Sempre preocupada com que todos estivessem satisfeitos.

Depois do almoço bem italiano, as mulheres iam para a cozinha pra arrumar a bagunça, enquanto os homens se debandavam pelas camas e sofás da casa para tirar um cochilo.

Nós, crianças, íamos pra villa, jogar bola, empinar pipa, brincar de elefantinho colorido, esconde-esconde, pega-pega... o que desse vontade.

No final da tarde, quando as mulheres já haviam limpado a cozinha e a bagunça e os homens acordavam de seus enormes cochilos, vinha a hora do café da tarde. E lá estávamos todos nós novamente comendo e conversando. Era a hora preferida em que a nonna abria os ovos de páscoa e a gente se enchia de chocolates.

Só depois do jogo, do Faustão e de uma bela parte do Fantástico é que acabávamos vindo embora pra casa.

Eram Páscoas gostosas, páscoas felizes, e que deixaram boas lembranças e muita saudade!