Sunday, May 13, 2012

Sobre a (não) consideração do outro

(*) Rio de Janeiro, 2011
E mais uma vez lá estava ela sentada, esperando. Esperava o telefonema que nunca seria feito, a chegada que jamais aconteceria. Ela sabia muito bem que estava tudo errado, mas,  ainda sim, não conseguia ser uma pessoa mais dura com o outro. Enquanto esperava, se distraía. Aparentemente, sabia já o resultado daquele encontro. Achava que ao menos merecia um pouco mais de consideração, já que o assunto daquela vez não era o "nós" (que nunca existiu de fato), mas sim, o "ele". Tudo gira em torno dele, então por que haveria de ser tão difícil?

Apesar de saber que todos ao seu redor tinham razão e ela própria tinha tantas outras razões e pensamentos escondidos dentro dela, ainda criava a expectativa e continuava a esperar. Sempre achava que as coisas podiam ser melhores por meio de um simples diálogo e, às vezes, por experiência própria, até conseguia ver e sentir melhoras, mas sempre por tão pouco tempo que não valia a pena tanta conversa.

Tinha todo o seu discurso em mente: não tocaria em assuntos que pudessem trazer discussões que, pra ela, já não faziam mais sentido. Era apenas para falar sobre "ele". Não havia nada entre eles, então pra quê conversar sobre o "não-relacionamento"? No fundo, apenas esperava que daquela vez as coisas fossem minimamente diferentes e que ele percebesse - sem que houvesse qualquer conversa a respeito - que as atitudes dele criavam certas consequências para ela e que a machucavam de alguma forma, ainda que "sem querer". Esperava sinceramente que o outro tivesse um pouco mais de consideração, pois ela, em seu estranho modo de ser, nunca deixara de ter consideração com ninguém, nem mesmo com aqueles que já passaram por cima dela e dos seus sentimentos tantas outras vezes como tratores desgovernados.

O tempo passava e ela decidiu sair, mesmo que não tivesse recebido a mensagem aguardada. Já era quase o horário de se encontrarem e ela acabaria, por fim, com toda a agoniante espera. Estava certa de que não discutiria e muito menos de humilharia diante dele mais uma vez, pois apenas queria contar e alertá-lo de fatos que diziam respeito a ele.

No meio do caminho, entretanto, recebeu a mensagem... não aquela que esperava, mas outra. Parou no meio da calçada no mesmo instante. Sua ansiedade se dissipou no ar em poucos segundos, transformando-se em mágoa seguida de raiva. Raiva por ser tão estúpida e por esperar por algo que já sabia que não ia acontecer. Assumiu, por fim, a conclusão que já havia chegado há algum tempo: não há o que fazer quando não existe consideração do outro.

E assim, voltou para o mesmo lugar da onde havia saído cheia de falsas esperanças e engoliu a seco tudo o que tinha pra ser engolido. E, finalmente, o deixou de lado, na mesma condição da qual nunca deveria ter saído.


(*) texto escrito em uma segunda-feira qualquer.

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