Eu tomaria outra cerveja. E mais uma. E outra. Sem medo, sem culpa. Pela primeira vez falei para um “terceiro” sobre o que realmente já passou na minha cabeça. Sobre alguns dos meus medos, algumas das minhas autocríticas... alguns dos meus pensamentos sobre mim mesma. Verdade seja dita, nunca havia escancarado assim as minhas tolices. Sempre com parcimônia, sempre com cautela. Dessa vez não. Preferi falar. Na verdade, foi tudo muito natural... é como se estivesse perto de um psicólogo que já conhece toda a minha história e passasse a analisá-la a cada palavra nova dita. Não medi palavras. Falei sobre as limitações... as minhas chatas limitações.
Não sei o que há ali naqueles olhos. Eles sempre me intrigaram e continuam a me intrigar depois de ano. Gostaria de entender um pouco mais. Ficam levemente escondidos atrás das lentes de aumento e os tornam um pouco intimidadores em certos momentos. Em outros, apenas curiosos... apenas esperando o que há para ser revelado.
Para mim, não existem mais jogos. Antes existiam joguinhos bobos de paqueras passageiras, mas agora? Agora não. Agora são sempre as verdades. Às vezes doloridas, às vezes, infundadas... às vezes, apenas verdades.
Estava despindo peça por peça do meu particular. Estava mostrando os reais contornos da minha realidade, por meio da minha própria lente polarizada. O relógio saltou aos meus olhos. Hora de ir embora.Hora de voltar à realidade... velha conhecida. Hora de ir embora e saber que não haverá outro encontro assim tão cedo, por mais próximos que estejam os pares.
Poderia ficar ali por mais outra cerveja. Não tenho pressa... o gosto vem à boca e desce lentamente pela garganta. Não tem o porquê correr... não temos hora marcada. Poderíamos ficar, mas a razão sempre fala mais alto. Conversaria mais. Ficaria mais bêbada. Outro gole. Os pensamentos fluiriam e eu revelaria o que há dentro de mim. Não o que há de sentimentalismo barato... mas o que há de puro e de verdadeiro. Talvez contasse sobre outros sonhos, outras vertigens.
As angústias ainda ficaram guardadas e as inseguranças não pude revelar. Talvez goste e me apegue à ideia de que seríamos realmente perfeitos juntos. Talvez me apegue realmente à ideia de que seríamos muito perfeitos juntos. E lembro, sem ter que fazer muito esforço, que hoje, exatamente hoje, estava num outro lugar... falando sobre futuro, sobre mestrados em Londres, vivenciando possibilidades já não tão possíveis e discutindo com o meu inglês na frente de um hotel qualquer as promessas de uma noite. Apenas aquela.
Talvez minhas próprias palavras tenham revelado tantas outras coisas que nunca tive coragem de revelar à mim mesma, mas isso, só o homem poderá me dizer um dia.
* Foto por: Henrique Oliveira Pires (www.1001imagens.com)
4 comments:
Freud chamaria isso de "a cura pela palavra". eu chamo de ato de coragem: se escancarar assim não é fácil.
evolução, evolução!
Coragem? Logo eu que me acho a mais fracota possível!!!! Ainda bem que ainda resta alguma coisa =D
De acordo com a Flavinha.
A gente tem que ter cuidado com os nossos desejos porque eles se realizam... Quando são colocados em palavras, então...
Puxa, este encontro deve ter sido bem bacana.
Beijodaí.
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