Sunday, December 23, 2012

Então...


Chegou aquela fase do ano que, por mais que eu tente evitar, o inevitável sempre acontece. É sempre a mesma coisa, é sempre tudo igual.

Natal sempre foi uma data que eu gostei de comemorar. Seja porque eu era criança (e, convenhamos, para as crianças o natal sempre é especial: a espera do Papai Noel, a surpresa do seu presente, o encanto da árvore de natal...), seja porque era uma data em que passávamos todos na casa da nonna e era uma festa completa. Montava o presépio, colocava um monte de enfeites na árvore e ficava ansiosa com os presentes.

No entanto, os anos passaram, fui ficando mais velha e, de repente, o encanto se perdeu. O natal passou a ser apenas outra data de reunião, comilança e amigos secretos sem critérios. Todo mundo corre pra se encontrar: é happy hour, é almoço, é café da da manhã, da tarde, enfim, correria desvairada para recuperar o tempo "perdido". De repente todo mundo quer fazer tudo de uma vez. Sacolas de todas as cores e tamanhos passam pra lá e pra cá. Trânsito, caos e correria, correria, correria.

Não perdi a fé, ainda gosto de acreditar que o Papai Noel poderá aparecer e trazer um monte de coisas boas (ho ho ho), mas o significado do natal em si mudou completamente. Mudou pra um tempo de reflexão, de estar com a família e de repassar tudo o que aconteceu durante o último ano. Um tempo de passar coisas a limpo pra não carregá-las para o novo ano. Um tempo de pensamentos imperfeitos, sentimentos distintos, vontades aleatórias. Não sei bem o porquê, mas as emoções ficam à flor da pele.

E quando passa, em seguida vem mais um ano novo (junto com o meu aniversário). E eu me iludo que as coisas vão mudar, que tudo há de ser melhor que o ano anterior, que o ano trará surpresas incríveis. As ondas já esperam milhões de pessoas pulando e lançando seus desejos no ar, e eu serei mais uma na multidão. As promessas se renovam e, junto com elas, as lágrimas caem por tudo que se viveu até então e tudo o que há pra se viver ainda.

Thursday, November 15, 2012

A chegada

Lá estava ela. Em pé, de blusa vermelha, calça jeans e tênis. Óculos de grau. Encostada em uma das grandes paredes, ela esperava. Oito anos se passaram desde a última vez em que nos vimos. Ela tinha vindo para o Brasil nos visitar na época de carnaval, em 2004. Tanto tempo passou, tanta coisa mudou e lá estava ela: esperando.

Lago Michigan (outubro de 2012)
Nos conhecemos por meio de um programa de intercâmbio. Morei na casa dela por seis meses (inesquecíveis!) em 1998. Trocamos impressões, pontos de vista, ideias. Aprendemos a cultura uma da outra dia após dia. Ela aprendeu um pouco de português, eu melhorei (e como!) o inglês. Fiz amigos, aprendi a viver em uma cidade do interior, cresci. E, depois de doze anos, resolvi voltar.

Saí pela porta automática procurando minha mala, meio perdida. De repente, eu a vi ali, parada. Sua única reação veio por meio das lágrimas que começaram a escorrer sem muita explicação. Abri o sorriso e os braços. De repente eu percebi que eu não podia estar em nenhum outro lugar se não ali: estava mais feliz que nunca de poder voltar lá depois de longos doze anos.

Sunday, September 02, 2012

Entre anjos e demônios

arquivo pessoal

Era só uma caixinha vermelha. Ficava escondida no fundo do maleiro do armário dela, assim, esquecida. Às vezes, quando ela queria pegar um edredon extra ou quando decidia fazer uma limpeza no armário, dava de cara com aquela caixa ali, mas não a abria. Também não havia necessidade, já que sabia perfeitamente o que encontraria lá dentro.

Anos antes, quando resolveu que não queria mais viver aquela situação dúbia e sem sentido, recolheu todos os fragmentos de um amor já não correspondido (ou correspondido em migalhas que se estendiam por todo um caminho de tristezas) e depositou tudo aquilo que fora materializado em palavras em uma pequena caixa.

O tempo passou, a caixinha não mais incomodou e pouquíssimas vezes foi visitada novamente, até aquela manhã de domingo quando ela se deparou com a tal caixa mais uma vez. Com um misto de curiosidade e repulsa, teve vontade de abrí-la, de redescobrí-la. Era tudo o que restava daquilo que teria sido uma história de amor um dia. Trocas de e-mails, cartas escritas por ela (algumas raras por ele), juras de amor, declarações  melosas, promessas, bilhetinhos e até mesmo aquele anelzinho de prata gravado que, abandonado há muito, havia se tornado praticamente marrom.

Nada daquilo fazia mais sentido. Nem as palavras, nem os objetos, nem mesmo os sentimentos duplos que ali estavam guardados. Amor, saudade, agonia e tristeza dentro de uma única caixa, direcionados a uma única pessoa.

De tudo, restaram apenas papéis picados em uma cesta de lixo.

Sunday, August 05, 2012

Passageiro

Naquela manhã algo estava diferente. Algo havia mudado. As grandes janelas davam espaço para os primeiros raios de sol invadirem de mansinho a sala para as visitas. Era uma fria manhã de inverno como outra qualquer. A ampla sala branca tomava emprestada a cor dos raios de sol. As cortinas se entreolhavam envergonhadas com aquela "invasão" e, ao mesmo tempo, abriam caminho para a luz entrar.

Por: Emília Duarte
Ela queria apenas ficar ali, sem se mexer. Não se preocupou com o horário. Não se preocupou em saber os outros detalhes escondidos naquele par de olhos verdes que já há tanto conhecia. Não precisava saber de mais nada. Sem pressa, sem pensar, apenas se deixando curtir naqueles grandes braços que a enlaçavam, ela permaneceu ali, em silêncio. Os raios de sol ficavam ainda mais fortes, mas ela não queria ir embora. Não queria que ele fosse embora. Enquanto esperava ele acordar, fitava aquela imagem bonita do céu iluminado de um domingo preguiçoso com uma certa leveza.

Sentia-se feliz, como há muito não se sentia. Assim como os raios de sol invadiam aquela sala onde apenas dois corpos se manifestavam de uma maneira carinhosa, se deixou invadir outra vez. Os sentimentos eram bons, eram puros. Não tinha mais o porquê esperar. Não tinha mais o porquê se fechar.

Porque, no fim, tudo passa. Às vezes leva um tempo maior, mas passa. A vida, as pessoas, os momentos, tudo passageiro. Algumas coisas se tornam mais marcantes, outras menos. A própria memória acaba se encarregando em varrer o que já não serve mais e abrir espaço para o novo. Os sentimentos vão se desfazendo no seu tempo e sob suas próprias condições.

E, assim, naquela manhã como outra qualquer, ela se deu conta: estava livre outra vez.

The ugly truth

Site:  http://yanilavigne.net/

Monday, June 18, 2012

Sopro de solidão

(*) "Becos de Lisboa", por Álvaro Roxo
Meio sem rumo, ela continua naquele caminho. Não sabe mais se está fazendo tudo certo, tudo errado ou tudo mais ou menos. Simplesmente não sabe. Os olhos se enchem de lágrimas quando pensa na sua vida e não entende o porquê se sente assim. E pensa mil coisas, "x" possibilidades, e por que não em mudanças? Mas seus olhos turvos nada enxergam.

A tristeza vai invadindo seu coração como um punhal que corta as peles aos poucos e vai adentrando tudo aquilo. Nada mais a surpreende, nada mais a anima. "Ao menos tem isso ainda...", pensa sobre a única coisa que lhe tem dado prazer e que mal tem tempo e disposição pra fazer. Quando consegue, se joga em um mergulho sem fim, como se a piscina fosse tão funda cujo fundo nunca chegaria. O cansaço, porém, muitas vezes, a interrompe e arranca as suas forças com as duas mãos... já não sente mais nada além da tristeza. As energias se esvaem de sua carne e se sente fraca, impotente.

Os ventos mudam de direção, mas ela continua ali sentada. Nada acontece, nada a anima. Como se não bastasse a própria inércia, as pessoas passaram a decepcioná-la sem qualquer vergonha. E ela ainda esperava: esperava mais carinho, compreensão, consideração, mas nada disso vale. Nada disso existe mais. E ela ainda se deixa decepcionar, se abater com essas esperanças tolas. Não se conforma com as coisas.

Sente-se só, mesmo estando rodeada de gente. Brinca com um, joga conversa fora com outro, pergunta coisas bobas e, no final do dia, volta para o mesmo lugar. Nada a preenche. Nada resolve. Apatia.

Queria voltar ao "normal"... voltar a sorrir com vontade, a se sentir verdadeiramente feliz e não deixar que os sentimentos estranhos entrassem em seu caminho. Queria deixar o vento vir na sua direção, sem medo, e espantar toda a tristeza. Espantar essa tal de solidão.

Sunday, May 13, 2012

Outras Letras...

Faculdade de Letras da USP
O amarelo claro tomou conta daquelas paredes cinzas. As portas, de um amarelo mais forte, se deixam vibrar em meio às luzes brancas que iluminam os longos corredores. Cadeiras azuis um pouco mais confortáveis que os bancos de concreto outrora ali colocados, dão um ar novo e contrastante aos corredores do prédio. A aparência se tornou mais clean e "afável" aos olhares desavisados. Até mesmo os quadros trazem recados, oportunidades, poemas de uma maneira mais organizada. O jardim de inverno que antes não passava de pedras e plantas aleatórias também passou por sua transformação e se tornou, de fato, um jardim.

O aspecto é outro, mas o local ainda carrega todas as histórias ali vivenciadas de maneira tão contraditória durante seus cinco anos de passagem. Seu coração palpitou quando ali entrou e foi repentinamente tomada por um punhado de lembranças que vinham rapidamente à sua mente. As escadas, as salas, ah quanta coisa! E ela passava pelos rostos estranhos e pensava que ali já havia sido o seu espaço também. Quantas foram as greves, os movimentos, as palestras... os encontros (e desencontros) bem ali, entre aquelas paredes que perderam a sua cor natural, mas que jamais perderão sua essência.

Doismilebolinha
A vontade de estar ali novamente foi imensa... mas nunca seria a mesma coisa. Histórias passadas, pessoas queridas e uma saudade que aperta o peito e a faz pensar que valeu a pena cada momento ali passado.

Sobre a (não) consideração do outro

(*) Rio de Janeiro, 2011
E mais uma vez lá estava ela sentada, esperando. Esperava o telefonema que nunca seria feito, a chegada que jamais aconteceria. Ela sabia muito bem que estava tudo errado, mas,  ainda sim, não conseguia ser uma pessoa mais dura com o outro. Enquanto esperava, se distraía. Aparentemente, sabia já o resultado daquele encontro. Achava que ao menos merecia um pouco mais de consideração, já que o assunto daquela vez não era o "nós" (que nunca existiu de fato), mas sim, o "ele". Tudo gira em torno dele, então por que haveria de ser tão difícil?

Apesar de saber que todos ao seu redor tinham razão e ela própria tinha tantas outras razões e pensamentos escondidos dentro dela, ainda criava a expectativa e continuava a esperar. Sempre achava que as coisas podiam ser melhores por meio de um simples diálogo e, às vezes, por experiência própria, até conseguia ver e sentir melhoras, mas sempre por tão pouco tempo que não valia a pena tanta conversa.

Tinha todo o seu discurso em mente: não tocaria em assuntos que pudessem trazer discussões que, pra ela, já não faziam mais sentido. Era apenas para falar sobre "ele". Não havia nada entre eles, então pra quê conversar sobre o "não-relacionamento"? No fundo, apenas esperava que daquela vez as coisas fossem minimamente diferentes e que ele percebesse - sem que houvesse qualquer conversa a respeito - que as atitudes dele criavam certas consequências para ela e que a machucavam de alguma forma, ainda que "sem querer". Esperava sinceramente que o outro tivesse um pouco mais de consideração, pois ela, em seu estranho modo de ser, nunca deixara de ter consideração com ninguém, nem mesmo com aqueles que já passaram por cima dela e dos seus sentimentos tantas outras vezes como tratores desgovernados.

O tempo passava e ela decidiu sair, mesmo que não tivesse recebido a mensagem aguardada. Já era quase o horário de se encontrarem e ela acabaria, por fim, com toda a agoniante espera. Estava certa de que não discutiria e muito menos de humilharia diante dele mais uma vez, pois apenas queria contar e alertá-lo de fatos que diziam respeito a ele.

No meio do caminho, entretanto, recebeu a mensagem... não aquela que esperava, mas outra. Parou no meio da calçada no mesmo instante. Sua ansiedade se dissipou no ar em poucos segundos, transformando-se em mágoa seguida de raiva. Raiva por ser tão estúpida e por esperar por algo que já sabia que não ia acontecer. Assumiu, por fim, a conclusão que já havia chegado há algum tempo: não há o que fazer quando não existe consideração do outro.

E assim, voltou para o mesmo lugar da onde havia saído cheia de falsas esperanças e engoliu a seco tudo o que tinha pra ser engolido. E, finalmente, o deixou de lado, na mesma condição da qual nunca deveria ter saído.


(*) texto escrito em uma segunda-feira qualquer.

Sunday, March 04, 2012

Inusitado

Abriu a porta com calma. Respirou fundo e não disse nada. Ela também não disse (e nem precisava): tudo estava ali, vivo e intenso. Pensamentos pairavam no ar. A ansiedade e curiosidade continuavam a falar mais alto. Antes, já havia pensado em desistir e voltar atrás, mas algo a impedia.


Continuava ali, sem movimento algum, na inercia. Seus envergonhados olhos se levantaram e encontraram outro par acima dos seus. A distância permanecia, mas a porta já estava aberta. Um sorriso largo – já muito conhecido por ambos – anunciava a sua timidez. Era algo inusitado e completamente estranho entre eles, afinal nunca imaginaram que um dia se olhariam daquela maneira, com aqueles olhos.


Deu o primeiro passo. A mão dele na sua cintura, um dos braços dela envoltos em seu pescoço. Estava nas pontas dos pés.

Ainda com a porta semiaberta, a hesitação se perdeu e foi ali que eles deram aquele que seria apenas o primeiro beijo.

Saturday, February 25, 2012

Gotas

Os pingos caem lá fora e a tempestade se instala ali dentro. Não há pra onde correr e nem o que entender, já está tudo assim, explícito. E por que ainda tentas? Por que ainda acreditas que as coisas mudarão? Por que se apegas em detalhes? Detalhes que já foram levados pelas pequenas correntes da chuva que se formam nas quinas das calçadas e caem no bueiro mais próximo. Não sabes o porquê.

Pare de tentar adivinhar, de criar teorias, distorcer ideias. Tudo não passa de hipóteses que moram na sua cabeça. Cabeça cheia de imaginação... ah, a criatividade.

Talvez estejas tentando se autofirmar. Tentando encontrar tudo o que foi perdido há tempos e jamais será recuperado. Talvez estejas tentando buscar uma resposta para o não querer alheio. Tudo foge ao seu controle, tudo foge muito rápido. E suas vontades, cada vez mais minimizadas, ficam ali dentro, escondidinhas, criando pequenas tempestades.

Espera-se, apenas, a calmaria.

Wednesday, February 01, 2012

Just another (happy) day

A felicidade verdadeira está, de fato, nas pequenas coisas.
Acordar com um dia lindo de sol...
Ouvir uma música que te faça sorrir...
Distribuir "bom dia" para as pessoas ao seu redor, sem nada pedir em troca.

Hoje acordei assim, inspirada.


Um ótimo dia a todos :)

Tuesday, January 31, 2012

Perca-se de vez!

"Dezembro na pateira" de Álvaro Roxo
Queria que tudo isso passasse e que a leveza voltasse. Anda se sentindo pesada e, ao mesmo tempo, de mãos atadas. Seus gritos ficam sufocados pelas minhas amordaças. E precisa se calar por fora e se ouvir por dentro. É mais que um desejo, é necessidade.

Sente-se presa naquele mundo que ela mesmo criou. É como se tivesse parado no tempo e não descobrisse a causa que a acorrenta em atitudes repetitivas. Quando se dá conta de que o comportamento apenas se repete, já é tarde demais. Recai sobre os mesmos erros, os mesmos julgamentos, as mesmas infantilidades. As mesmas burrices. E por que precisa ser tudo o "mesmo"? E por que tudo de novo?

Precisa voltar a aprender a aquietar a mente. Esquecer e se deixar esquecida. De (deixar de) fazer certas coisas. Desespero e ansiedade machucam e são tolices da humanidade. São, sobretudo, suas tolices incontroláveis.

Monday, January 30, 2012

A cidade e as cegas

Ela olha pela janela. Já anoiteceu, as luzes se acenderam lá fora. Ali dentro continua escuro, sombrio. Não sabe muito bem o que procurar, pois não tem certeza se de fato quer encontrar alguma coisa.

Pousa o queixo sobre os braços cruzados e não se cansa de pensar. Pensa sobre os clichês da vida e os tapas na cara que anda levando. Toma outro gole. E mais outro. Tira seus óculos para ver se assim consegue enxergar melhor. Quer vasculhar aquela paisagem pra saber se ainda há algo ali. Se ainda resta alguém.

Hesita diante de tudo isso. Será que saberia lidar com as mudanças que a vida vem tentando lhe oferecer? Vasculha lá dentro de novo. E tenta enxergar aquilo que é inalcançável aos seus olhos. Alguns fios de cabelo escapam e recaem sobre a sua testa. Não se importa. Não sabe mais o que exatamente a vida quer lhe mostrar com tudo isso. Perde as forças e a vontade diante de tantas novidades. E se confunde por não entender os porquês.

Os sons dos carros lá embaixo diminuem ao passo que tantos outros sons aumentam dentro da sua cabeça. Não entende porque sempre se acha tão errada em tantas situações. Não entende o porque querer determinada coisa é tão difícil e tão inalcançável. Será que está sempre errada, como sempre se julga estar?

Outro gole passa pela garganta que já não quer mais se abrir. Querendo calar seus pensamentos, fecha seus ouvidos. Em vão. Fecha a garrafa, isso tudo não faz mais sentido. A cidade já não é mais a mesma. E ela também não.

Sunday, January 22, 2012

Recortes

Querendo esquecer da realidade, tomava um outro gole da pinga. Seu casaco mostarda, seu boné escuro e os cabelos meio grisalhos se misturavam naquela figura.

Estava andando vagarosamente sobre o viaduto. Falava sozinho. Falava qualquer coisa e gesticulava com apenas uma das mãos (a outra, era ocupada pela pinga). Parecia que queria fazer com que o mundo o ouvisse. Mas, ninguém escutava. Os carros fechavam suas janelas como se quisessem dar as costas àquele indivíduo.
Ele olhou para a minha direção e logo desviou o olhar. Alguém o observava. Eu ali, tentava decifrar as palavras jogadas ao vento. A plateia era exígua.

Se virou, e tudo o que pude ouvir foi um toma pra vocês. Atirou um pequeno pedaço de barbante desgastado na via que passava por baixo do viaduto. Barbante tão pequeno que nem servia para uma possível tragédia.

A garoa fina começou a cair e, aquele casaco mostarda, foi se deixando descer pelo viaduto.

Tuesday, January 10, 2012

Ali dentro


Ela se fecha em um mundo interno e infinito e, dentro desse mundo, se explora. Adentra portas nunca abertas, lugares obscuros de sentimentos oblíquos. Nada é certo. Também nada é errado. Apenas procura encontrar respostas dentro de si mesma para aquilo que não possui sequer uma pista. Os questionamentos aumentam, as forças se confundem e ora se encontra em pura fraqueza, ora com toda força que a vida pode lhe dar. E não dá pra entender. São altos e baixos e muitas curvas entre uma descoberta e outra. É como uma montanha russa, cujo fim nunca se aproxima. Quanto mais se aprofunda, se depara com quebras, falhas, rachaduras. E dá um aperto, uma aflição, até mesmo uma agonia.

As pessoas já não querem mais fazer parte disso. Afastam-se dela, às vezes, até sem querer. E naquele cantinho frio, sozinha com ela mesma, suas lágrimas escorrem. Por alguns momentos ela se esqueceu de ser mulher e apenas se deixou ser criança.

Sunday, January 08, 2012

Ah... as mudanças.

O ano muda, as pessoas nem tanto. E não é por não quererem, mas sim porque o processo de uma mudança profunda leva tempo. Leva tempo para entender que algumas coisas estão um pouco mais arraigadas que outras. São conceitos, maneiras de viver e de encarar as coisas e até mesmo de colocar as coisas na balança que fazem a diferença quando a real vontade é de, no fundo, mudar uma porção de visões.

Você passa a não se importar com algumas coisas, mas ainda sim, dá atenção em demasia a tantas outras que não devem ter sequer atenção.
Algumas pessoas sentem necessidade em falar determinadas coisas que, no fundo, não precisam ser faladas. Elas simplesmente ficam subentendidas nas entrelinhas. Então, pra que abrir a boca? Qual é essa necessidade? E por que essa agonia? Eu também não entendo. Penso, penso e quanto mais eu penso, mais o nó se faz na minha cabeça. E a gente tenta ficar quieta quando a vontade é de falar, falar e falar, por mais que não se saiba bem ao certo o quê. Isso definitivamente não está certo. Mas talvez também seja parte do processo de alterar, desfazer, refazer e ver no que dá.

Outras tantas pessoas não sentem qualquer necessidade de falar feito uma matraca doida. Elas se contentam com o silêncio próprio e o alheio e seguem sua vida sem olhar para trás. Mas até onde isso também é saudável? Até onde isso faz parte de crescer e perceber o que se quer ou não? Se não está contente, simplesmente aceita em silêncio? 

Acho que estou no meio desse processo louco de me conhecer e saber até onde vai meu limite. Ou, talvez, no começo, em uma visão mais conservadora. Ao que parece, será um longo caminho tortuoso, mas que estou disposta a seguir... afinal, não dá pra ser a mesma e cometer os mesmos erros sempre. É hora de mudar.